04/07/2012

O manifesto do alvorecer (ou a espera)


Era manhã.
Ou melhor, quase manhã. Haviam nuvens, céu e nada. Um pouco de verde distante, verde ausente, verde que amanhecia em outro tom. E havia o verde que lhe fazia companhia vertendo à garganta.
Fluía.
Dentro, fora, fluía. Seus lábios estavam um pouco dormentes, a postura não era a melhor, mas havia curvas nos lábios. E o rapaz via o tempo passar devagar, arrastado enquanto o dia não vinha, de fato. As gotas iam junto, arrastadas, lentas, silenciosas. Vezes ele imaginou que elas acompanhavam o tun run nhum ao fundo, o violino. Confessava que era péssimo em onomatopéias, mas só o fazia por estar embriagado. E só confessava essa segunda, a embriaguez, porque apesar das nuvens, do verde musgo, da mornidão de sua cerveja e dos lábios dormentes, ainda sorria.
Sorria tímido.
Seus olhos de bolita orbitavam em direção ao céu. Queria as gotas marcando sua pele, pensava. Queria as gotas. Seu gato não deixava. Carregava o gato no peito, bem junto, pra que quando houvesse saudade ronronasse ali próximo ao coração. Agora ele chiava. Não devia ir à garoa (que aparentava estar morna, morna, meio amarela até). Não devia respirar fundo, também. Só verter o verde, embebedar-se. Embriagar-se. Perder o controle só. Perder o controle e só. Só com o musgo, com o nada. Devagar, devagar. Um suspiro ou dois, um cigarro. Trago fundo, tosse. Era o gato. Maldito gato que insistia em ser único. Maldito eu que insiste no só. E na cerveja. Um pouco de vagareza, de tempo bonito. E é só.