Certa vez, há algum tempo, recordo ter escutado um cara qualquer, em uma mesa de bar, recitar algo que continha uns versos tão verdadeiros quanto encher os pulmões.
Encher os pulmões após uma longa escalada em busca de.
Os versos do alemão (hoje reconheço seus poemas em qualquer lugar) diziam, superficialmente, algo como precisar e se completar. Apesar de beberrão, entendi (gosto de acreditar que sim) o que o tal poeta queria dizer. Não sei se o cara da mesa ao lado entendeu, já que ele derivava além do palpável, do imaginável. Apesar de beberrão, o poeta nada fazia se não estivesse enamorado. Não um amor específico, dado, entregue assim, como se fosse um pacote, não. Coisa de escritor mesmo, coisa de amor visceral, sem nome, sem definição...
Foi pensando nessa coisa de amor e pertencer e completar e inspirar que parei aqui. Quer dizer, após esse "memorandum", parei aqui. Ou melhor, me movi. Ou melhor ainda: me dei à inspirações (aspirações e até suspiros) precoces, impulsivas. Infusões de antes do nascer do sol. É engraçado como a madrugada nos preenche de lembranças. Depois de recordar o pertencer, de constatar que eu pertencia, pertenço, inspiro, suspiro, incuto, agrego, me sinto completo e adoro tudo isso, adoro mesmo, cultuo, amo extremosamente (como diz o Aurélio), a consciência, ainda que ínfima dessa condição de apaixonado, me faz derramar o peito antes do sol raiar. É condição de enamorado, ouso dizer. Não só de enamorar-se de alguém, mas algo como inspirar o amor. Não só aquilo palpável, não. Vai um tanto além. Um tanto que eu não descobri a quantidade. Além de poetas e versos vertidos em mesa de bar, de madrugada insone (e devido a isso muito mais nostálgica, morna, preenchida de amor recolhido) e de escritas aleatórias pra, talvez, tentar contar o que se passa peito adentro.
Coisa de Cariad, o vento sopra. Vento desses frios que não sabem se ventam, se arrepiam, se contam coisas pra gente ou se só assoviam pra relembrar o coração. Ou pra adicionar memórias. Ou pra nos fazer correr, ainda que mentalmente, para os braços, pernas, ombros, cotovelos, joelhos, coxas de quem nos faz morno. Ou quem tem o calor dentro do peito.
Desconfio que o vento sopra saudade. Não aquela saudade amargurada, dolorosa. Ele sopra, junto com as histórias, junto com "as coisas que mais amo", junto com os "apesar de", aquela saudade quentinha de quem volta pra casa e se afoga nos abraços, nos olhos.
E... Sabe de uma coisa?
Agora já é manhã. E venta.
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