15/08/2012

FRAGMENTOS CALOROSOS (TALVEZ SUADOS) OU A AUSÊNCIA DE LINEARIDADE CARDÍACA



- Eu não aguento mais esse calor.
Eram 02:37 da madrugada e ele estava sentado no sofá, olhando a porta aberta como se pudesse ver o vento chegar. Mas ele não chegava nunca. Suas pernas estavam cruzadas e eu podia ver as gotículas de suor escorrendo lentas pelas dobras de seus joelhos arredondados, traçando aquelas coxas alvas, por onde a samba canção havia escorregado.
-Também não aguento, ta difícil demais assim.
Acendi um cigarro. Caminhei um pouco, enquanto tragava sem pressa, até me encostar ao braço do sofá. Sentei-me ali, observando-o enquanto pendia a cabeça no estofado do sofá, respirando devagar. Gotas de suor brotavam naquele peitoral convidativo.
Traguei outra vez. Ele é tão bonito. Tão suave. Inclinei-me um pouco à frente, alcançando meus lábios em sua clavícula. Beijei ali em um tempo particularmente nosso e segui com algumas mordidas leves por aquela maciez um tanto minha, até alcançar seu pescoço, com alguns sinais da barba por fazer.
-Por que você não me acendeu um cigarro?
Questionou um tanto rouco, adentrando os dedos nos meus cabelos suados. Levei minha mão livre ao encosto do sofá, de modo a ter apoio conforme me inclinava sobre ele um pouco mais. Tracei sua pele morna com algumas lambidas, alcançando seu maxilar entre meus dentes.
- Quer que eu acenda agora?
Sua mão livre subiu pelas minhas costelas, apertando os dedos entre alguns beliscões. Ergueu o rosto um pouco, até que suas bolitas pudessem mirar as minhas. Encostou sua boca avermelhada à minha, mordendo meu inferior algumas vezes até escaparem por seus dentes.
- Me dá um trago, vai.

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Boca seca. Acordei com sede e suado. Engraçado isso, havia dias que não acontecia. Minha pele estava um pouco oleosa e não queria abrir os olhos, não naquela manhã.
- Hans, acorda! Acorda!
Alguma coisa gelada escorria na minha cara. Não queria pensar o quê poderia ser, só não queria abrir os olhos ainda. Os entreabri.Vi joelhos molhados, pêlos pregados nas pernas torneadas, uma toalha azul marinho, abri os olhos um pouco mais, um caminho ralo de pêlos, barriga branca e algumas marcas...
-Anda, Hans, que merda, a gente tá atrasado!
Descobri o que era a coisa gelada na minha cara. Seus cabelos pingavam enquanto tentava me acordar com uma delicadeza exímia. Era refrescante, afinal. Mas eu estava cansado. Meus olhos ardiam. Não conseguia piscar sem sentir aquela areia entre as minhas pestanas. Areia do sono.
Com algum pesar me sentei ali, na cama, pelado. Aquele calor me incomodava e eu não o entendia, até enxergar a janela fechada. “Foda-se a janela”.
Alcancei meus cigarros, acendi. Traguei fundo, traguei pra alma. Acordei com alguém e não havia ninguém ali. Maravilha, eu não estava louco. Minha cara ainda estava molhada. Acordei e não havia completado o meu ritual, lembrei. Sabia disso porque estava sedento, apesar de ter feito sexo a madrugada toda, praticamente. A madrugada toda. Há quanto não tinha seu corpo nu e tão meu? Já nem queria me lembrar disso.
Traguei outra vez.
Era cedo, mas estava atrasado (como alguém havia dito) e excitado novamente. Sedento.
Respirei fundo.
Uma mão roubou meu cigarro.
- Porra, anda! Anda, Hans.
Arqueei as sobrancelhas e nem o encarei. Levantei a contra gosto e caminhei à janela. Estava muito, muito quente, eu semi-ereto e ele lá, lindo, com gotas de água no peitoral e aquele jeans que ressaltava suas coxas. O jeans que eu arranquei noite passada.
Em pensar que eu quase cheguei a crer que não havia ninguém. Que eu estava ficando louco.
Respingos voaram na minha cara quando terminei de abrir a janela. Chovia.
Chovia forte.
Voltei a ele, enquanto o via abotoar o jeans de costas pra mim. O abracei por trás, com força. Mordi sua nuca gelada, seus ombros algumas vezes, enquanto desabotoava seu calça que mal havia fechado. Levei minha língua (sedenta) pelo seu pescoço, até alcançar a orelha. A chupei devagar. D e v a g a r e intensamente. Ele não me dava moral, mas eu insisti. Seu corpo arrepiado cedia pelos seus gestos negados. Afundei meus dedos pelo seu jeans entreaberto, apertando o volume da sua boxer entre a palma da minha mão e meus dedos. Ele tragava meu cigarro em uma pirraça única, até que sussurrei
- Tá chovendo. Eu faço o café e ficamos aqui.
Ele soltou a fumaça lentamente, tão lentamente que quase me irritou.
- Não.
Não sei o porquê, na verdade sei... Sabia daquela resposta. Esperava por ela. Tudo isso porque não o havia beijado logo quando me acordou. Vingativo, esse moleque.
- Não, vai tomar banho, vá logo que você cheira a sexo.
O soltei sem pensar em nada e saí. Era uma maldade tremenda fazer aquilo comigo, afinal, chovia. Chovia forte. Seu cheiro também estava impregnado em mim. Impregnado no meu corpo todo. E eu gostava daquilo. Adentrei o banheiro com alguma raiva, apesar da consciência dos compromissos para o dia todo. Deixei a porta aberta, eu havia de me vingar.
Deixei a porta aberta, abri o chuveiro. Fechei o Box. A água gelada escorria pelo meu corpo em um frescor maravilhoso, mas eu ainda estava sedento. Sedento de sexo e de vingança. Sabia que ele estava puto. Comecei a tocar uma sem pressa. Ele veio me apressar.
- Anda Han... Deixa eu entrar aí também?


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