“Comprei um romance por causa de um romance. O primeiro, à véspera de desaparecer. O segundo, com caligrafia minúscula e escondida. (08/08)”
Foi pensando nisso que sorvi o café devagar, café já morno, café saudoso e continuei minha leitura. Ou pelo menos tentei. Minha atenção não estava ali, não mais. Havia de me lembrar a data da compra: oito de agosto de dois mil e doze. Oito. Oito é o número que ainda me faz servir café pra dois. Há seis meses, o oito, que deitado vira eterno, teve fim. Não teve muito tempo de deitar, penso. E o fim, que ocorreu há seis meses, ainda vive. Vive de forma escondida, pelos cantos, nas sombras, penso. Tentaram, tentamos, tentou, tentei escrevê-lo pequeno, escrevê-lo minúsculo como o cara do livro que queria minúsculo também. Minúsculo até desaparecer. Pelo visto, não deu certo. Não terminei o livro ainda, mas o café já. Terminei o café, fechei o livro e suspirei. Foi desse livro que você se retirou e viveu, apesar de não conseguir viver como gostaria: escondido. Ou no desaparecimento. Nas sombras. Não sei se ainda tenta, mas o minúsculo não serve pra ti. E no meu romance, o segundo, que veio devido ao primeiro, que você me indicou, escrevo a dedicatória. Sei que não é a sua letra apertada e pequena ali, sei que não são as suas palavras, mas rabisco coisas como se houvesse dito ao pé da minha página. Coisas versadas por você sem nem mesmo saber. Confesso que não tenho coragem de escrever na página do livro, na página-você, como também confesso deixar o oito meio inclinado, em sinal de um oito-torto-meio-sem-fim. Fiz a dedicatória. Não ficou boa, não ficou minúscula. Nem um pouco de ti. Pasavento, passa vento. Vento na cara, nos cabelos, Eduardo Galeano, Vila-Matas, café, café pra dois, verter devagar, fumar, tragar, derrubar café no caderno... Você está minúsculo, está tentando ainda, sinto. Está se escondendo nas minhas páginas. Derrubou café no meu caderno-você. Derrubou você aqui, ainda sem saber. Oito-quase-deitado. 6 meses.
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