18/03/2013
Harmoniosos suspiros (doces-roubados)
Costumava pensar que o silêncio dizia coisas demais, o rapaz.
O silêncio era a porta da imaginação, a fresta-iluminada dos devaneios. Um
convite à loucura, até. Costumava, também, crer que perder o foco era o passo
inicial pra se ter uns sorrisos roubados, tanto como ladrão, quanto como
vítima. Particularmente, os olhos infantis (que se desprendiam do mundo)
pareciam preferir os assaltos... Estou quase certo. Do tipo que assalta o
outro, a outra, alguns, outrens, pra uns sorrisos largos. Aqueles sorrisos com
cara de primavera, de flor que desabrocha, com cheiro de quindim comprado ao
final da tarde. Sorriso com cara de pôr-do-sol morno. É como se ele roubasse
sorrisos só pra o aconchego. Não que ele precisasse, evidentemente. Nem que ele
soubesse, isso era claro. Pelo que eu entendi, mal sabia ele que envolvia seus
iguais numa calmaria, numa mornidão indescritível. Rolaram alguns buxixos,
poucos, sobre esse tal rapaz dos olhos doces. Alguns diziam que ele agia “como
quem não quer nada”. Outros, em sussurros sorrateiros, daqueles que parecem
fugir pra não serem pegos, costumavam espalhar que ele tinha uma doçura
guardada no peito. Mal sabia o rapaz que ele antecipava o calor de setembro. Era
desatenção demais. Excesso de fresta-iluminada brilhando em frente aos olhos
infantis, era evidente. É evidente. Parece que muita gente anda mergulhando no
azul-fantasia que esse rapaz espalha por aí. Espalha pelo vento, acho. Ou ele é
o próprio vento... Ou será brisa? Não sei, talvez os dois. Passarei a crer no
silêncio. Talvez ele me certifique desse sopro ao pé do ouvido que arranca
suspiros e permite as idas, as fantasias, os delírios de olhos abertos. Coisa
de gente doce, eu acho. Coisa de gente silenciosa. Coisa de quem vem
meio-sopro, meio-tornado, meio-suspiro. Coisa de quem vem pela metade e
preenche a gente.
17/03/2013
1ª parte - Dos temores da falta (ou os estilhaços perdidos)
Era uma necessidade primária, o sono. Eu
precisava. Eu preciso. A existência de um conflito emocional me deixa tão
atordoado que acabo perdendo o que sempre fiz muito bem: fechar os olhos pra
sonhar. Não é só uma questão de descanso, veja bem... É uma questão de sonhos,
delírios, devaneios. Você esteve aqui a semana toda, eu vi. Eu sei. Eu até te
toquei, acariciei, abracei, dormi junto, roubei uns beijos, tratei mal, virei a
cara, pedi desculpas... Mas não consigo pensar nisso sem um pesar no coração.
Recordo-me que há uns 2 anos
atrás, um cara aí, poeta-perdido pela cidade, escreveu 1 verso assim: o medo, dome-o. E eu tenho estado com
tanto medo que o pranto desesperador já abandonado há muito, se arrasta devagar
por entre as minhas pálpebras. Perceba isso: abandonado. Passou-se muito tempo
desde que eu estive assim. Mentira, não foi muito tempo... Não no relógio.
Porém, tenho a necessidade de confessar que, desde que você apareceu, meu
coração tem batido em outro ritmo. É quase como se tivesse adiantado a
primavera. E é isso que me desespera. Me desespera essa distância, sabe? Eu sei
que você vê. Não posso estar ficando louco assim, tão cedo. Não posso ter
perdido a lucidez assim, tão fácil. Você vê, não vê? E eu não queria te contar
nada disso, você deve saber. Também não quero que entenda como uma obrigação, odeio
soar pedante... Mas engasguei com os meus sentimentos em relação a ti. Não
tenho dúvida quanto a eles só... Só dúvidas sobre onde devo depositá-los. Onde?
Me diz. Me diz! Eu preciso de uma resposta dessas rápidas... Não, não precisa
ser rápida. Só não quero ficar sem você muito mais. Vê, eu perdi o sono. Estou
há mais de quatro horas no espaço imenso dessa cama esperando por você.
Esperando pra fechar os olhos e te ver aí, dizendo que eu te irrito, que não
entende o que eu falo e que sou obsessivo.
Algumas pessoas dizem que recordar é viver
e que quem canta os males espanta... Só consigo cantarolar o maldito trecho da
música em que se você for embora eu vou
virar mendigo, eu não sirvo pra nada, não vou ser seu amigo... Fica comigo...
Não está sendo fácil esse processo, esses nós. E um cara da comunicação, um
outro que não recordo o nome, como sempre, costumava dizer que todos somos
pontos de encontro, nós. Nó dado, nós-eu-e-você. E a gente se amarra de um
jeito único, como todas as outras pessoas que se permitem amarrar, enlaçar,
laçar. Então, como não durmo, não te tenho e não alivio o peso, só consigo
pensar no permitir. Eu demorei tanto pra te permitir aqui, dentro de mim. Fico
pensando se isso chega a ser doentio ou sou só eu tentando entender o que você
é, exatamente, em cada pulsar do meu peito. O que você é quando adentrou meus
poros e se alojou em vários cantos do meu eu. O que você está fazendo comigo?
Isso me assusta. E eu tento ser forte pra ti, mas não sou bom em ser forte. É o
medo. Aquela coisa de domar... Não sei se eu consigo sozinho.
Meu bem, entenda que eu não estou
te exigindo nada pra poder descansar em paz. É que meu peito tem estado tão
pesado que eu já nem sei mais o quê fazer. Talvez eu descubra, com o passar dos
dias, onde deva depositar esses nós entalados na garganta, exatamente. São
tantas declarações clichês que você, no mínimo, daria risada. Sabe, eu só não
quero apostar. Eu comprei as fichas, comprei todas que podia. Almejei mais
delas, desde que você veio sorrir perto de mim. Só não sei onde apostar, agora.
Ando meio desnorteado, meio perdido, meio sem sono. Deve ser por isso, afinal.
Deve ser essa falta de sonho, de delírio, de riso-roubado que me desnorteia. Que
me deixa sem chão. Deve ser essa falta de você mais perto, não sei... Na
verdade, sei. Sei que é isso, sei que é falta da sua risada boba e das suas
evasivas constantes.
Talvez eu deva tentar voltar ao
sono. Há uma possibilidade ínfima de que você venha. Eu só quero me sentar pra
te olhar um pouco melhor, um pouco mais perto. Só quero fechar os olhos pra te
ver aqui, ainda que não meu. Aqui.
03/03/2013
Anseios.
"Iniciei o caminho Walseriano há muito, muito tempo, constatei. Desde os remotos 13 anos ocupando a sala de espera psiquiátrica. Só me toquei do fato nesse sábado, 7 anos depois, ao notar que me encontro no estofado verde musgo da sala-pacata-de-sempre. Não que já esteja com o pé no manicômio, mas, pelo visto, meu alter-ego adora rondá-lo. Adora sondar o abismo. Coincidência ou não, trouxe comigo para uma releitura o tal Jakob.
Esse estofado verde causa uma ausência de estranheza tremenda. É como se já estivesse em casa. Acho que até mais confortável. Mais eu.
Nesse meu conforto físico, reencontro a árvore que chamo de minha. Não pela posse, pelo pronome, mas pela lembrança. A primavera que nomeei. Olho pra ela e vejo o riso-contido-do-mar em cada pétala. O riso que ronda as minhas primaveras.
O cômico de tudo isso é que sempre, sempre que retorno ao estofado verde, ela está florida. Vez ou outra me ignora, a tal. Porém sempre vejo no rosa primavera o sorriso-contido-oceânico.
Penso no riso dos olhos do Jakob, no sorriso da primavera e nos nossos encontros casuais (e ansiados, ao menos por mim) nos sofás de tom musgo-variado (manchado de dor, lágrima, pânico, de riso e de folha seca) que beiram a loucura. E gosto. E espero por mais. E sinto falta aos sábados ou quintas nesse antro saudoso e memorável do farol.
Nos outros dias, finjo nem ocupar essa vaga à loucura. Finjo até me deitar e fecho os olhos pra encontrar a primavera, o mar.
Alguém anunciou meu nome; hora de desaparecer."
(29/12/12)
Das partes infindáveis; migalhas de mim.
(00/00/00)
Esse sol contra a cortina da sala me faz sentir o perfume dos dias em que você desenhava flores tortas nas contra-capas dos meus livros escondidos.
#
(01/08/12)
Acordei com a poeira da lembrança e os móveis rangendo na memória. Talvez seja por isso que as minhas narinas (olhos não, nunca) não param de gotejar.
#
(24/07/12)
Sabe quando você para e sente o seu coração morno? Então.
No seu farol tem um barco. Caso resolva, pegue-o e vá até o porto.
O porto não sai do lugar.
Estará lá com uma coberta e uma garrafa de amor quente pra ti.
#
(29/08/12)
Escrever em papelotes
Coisas grandes e adjetivos
pobres
acanhados como a alma
adendos singelos
suspiros curtos
risos tímidos
como a pobre alma
que vive
(talvez).
#
(09/02/2013)
Estou há mais de hora pensando no que te escrever. Prometi que o faria todos os dias, mas tenho procrastinado os sentimentos. Tudo anda tão torto quanto os meus sorrisos sem você.
- Choveu o dia todo.
- Você já disse isso.
- Disse? Desculpa, não lembro.
Tirei os óculos enquanto recordava o nosso diálogo de hoje. Queria saber em que dia te perdi. A gente troca umas palavras cada vez menores, enquanto mentalmente cantarolo "fica comigo... se você for embora eu vou virar mendigo, eu não sirvo pra nada..."
Larguei os óculos e resolvi fumar o marlboro como todo mundo, exceto pela rua. Tô na janela, sabe? E ela tá tão grande sem você.
Deixei um chá pronto e a cama arrumada pra ti, como sempre.
#
(19/02/2013)
É engraçado como a espera pode entrelaçar as pessoas. A solidão matinal é preenchida por outros corpos cheios de vazio e cansaço existencial. O que deveria ser "só" é recheado de outros "sós" a espera de um único momento: a chegada do ônibus. Até o cachorro de 3 patas que, em todas as manhãs, manca diante do monte de corpos ocos parece mais contente.
Ele manca numa pressa de "ser" que, por vezes, gostaria de estar no lugar dele.
Esse sol contra a cortina da sala me faz sentir o perfume dos dias em que você desenhava flores tortas nas contra-capas dos meus livros escondidos.
#
(01/08/12)
Acordei com a poeira da lembrança e os móveis rangendo na memória. Talvez seja por isso que as minhas narinas (olhos não, nunca) não param de gotejar.
#
(24/07/12)
Sabe quando você para e sente o seu coração morno? Então.
No seu farol tem um barco. Caso resolva, pegue-o e vá até o porto.
O porto não sai do lugar.
Estará lá com uma coberta e uma garrafa de amor quente pra ti.
#
(29/08/12)
Escrever em papelotes
Coisas grandes e adjetivos
pobres
acanhados como a alma
adendos singelos
suspiros curtos
risos tímidos
como a pobre alma
que vive
(talvez).
#
(09/02/2013)
Estou há mais de hora pensando no que te escrever. Prometi que o faria todos os dias, mas tenho procrastinado os sentimentos. Tudo anda tão torto quanto os meus sorrisos sem você.
- Choveu o dia todo.
- Você já disse isso.
- Disse? Desculpa, não lembro.
Tirei os óculos enquanto recordava o nosso diálogo de hoje. Queria saber em que dia te perdi. A gente troca umas palavras cada vez menores, enquanto mentalmente cantarolo "fica comigo... se você for embora eu vou virar mendigo, eu não sirvo pra nada..."
Larguei os óculos e resolvi fumar o marlboro como todo mundo, exceto pela rua. Tô na janela, sabe? E ela tá tão grande sem você.
Deixei um chá pronto e a cama arrumada pra ti, como sempre.
#
(19/02/2013)
É engraçado como a espera pode entrelaçar as pessoas. A solidão matinal é preenchida por outros corpos cheios de vazio e cansaço existencial. O que deveria ser "só" é recheado de outros "sós" a espera de um único momento: a chegada do ônibus. Até o cachorro de 3 patas que, em todas as manhãs, manca diante do monte de corpos ocos parece mais contente.
Ele manca numa pressa de "ser" que, por vezes, gostaria de estar no lugar dele.
Sobre o lago (ou mergulhos involuntários)
Ele era doce como o café que eu não havia adoçado a pouco,
em meus lábios sedentos por cafeína, por contraditório que isso possa parecer.
Doce e quente. Me aquecia dos lábios aos pés. Do primeiro toque à minha boca,
vertia pela garganta e dava um tempo em meu estômago. Percorria esse caminho
lento e denso. Talvez, se não estivesse lá, olhando aquele lago que havia
criado para definir as sensações, acabaria supondo que era um movimento faminto
no âmago. Gostaria de crer que era apenas fome, fome de comida. Mas não era
possível. Ele me preenchia devagar, me aquecia e me deixava faminto. Faminto
por tê-lo, consumi-lo, mantê-lo dentro, na minha mornidão tão comum. E me fazia
contorcer. Por dentro, por fora, contorcer. E enquanto estava lá, olhando
aquele lago quieto que havia estabelecido para dividir as sensações, acabei
saindo do meu padrão de dias comuns. Foi ele vertido em mim. Eu sabia. Não
queria acreditar, mas sabia. Sabia também que ele, após me acalentar e
convencer silenciosamente, arrastou-me pelos pés para o lago. Eu não podia, não
era o meu estabelecido. Não podia. Ele estava me arrastando pra dentro de mim.
Dentro do que eu evito. Gosto da minha margem, da minha divisão e de apenas
observar o meu lago calmo, pacato. Havia uma placa de “proibido mergulhar”. Era
proibido, eu repetia mentalmente. Sempre repeti. Vez ou outra, em dias de
cansaço e tédio, jogava uma pedra no lago pra ver se havia reação. Ondulava,
ondulava, ondulava, cessava. Temporário, 1, 2 dias de êxtase. Era o suficiente,
eu costumava pensar. Estou confuso com isso tudo. Ele me arrastou pro lago.
Conseguiu. Eu me sentia (e sinto tão quente), que precisava amornar aquela água
aparentemente fria. Céus, ele me deixou crer que poderia amornar o meu lago. Ou
melhor, ele fez isso. E me fez mergulhar. Resisti, enxergo. Com algum receio,
confesso temer. Havia a placa, entende? Era proibido. Primeiro molhei os pés.
Era tentador continuar, me lembro. É tentador nadar mais por aqui, mas só
depois de tê-lo morno. Então adentrei os dois pés. Aí o receio: choque térmico
ou ele havia me deixado? Senti os pés esfriarem. Eu deveria aquecer o lago, não
ser esfriado por ele. E o meu calor estava fugindo? Esfriando? Hesitei. Fiquei
ali, com os pés. Não costumo quebrar as barreiras que estabeleço. Foda-se, também,
gritei pro nada. Gritei pra lua. Ela sempre me olhava de longe. Acho que acabou
rindo. Foda-se também, é meu lago.
E mergulhei.
(Sobre as ondas que persistem no lago criado há mais de ano)
Assinar:
Comentários (Atom)