17/03/2013

1ª parte - Dos temores da falta (ou os estilhaços perdidos)


Era uma necessidade primária, o sono. Eu precisava. Eu preciso. A existência de um conflito emocional me deixa tão atordoado que acabo perdendo o que sempre fiz muito bem: fechar os olhos pra sonhar. Não é só uma questão de descanso, veja bem... É uma questão de sonhos, delírios, devaneios. Você esteve aqui a semana toda, eu vi. Eu sei. Eu até te toquei, acariciei, abracei, dormi junto, roubei uns beijos, tratei mal, virei a cara, pedi desculpas... Mas não consigo pensar nisso sem um pesar no coração.
                Recordo-me que há uns 2 anos atrás, um cara aí, poeta-perdido pela cidade, escreveu 1 verso assim: o medo, dome-o. E eu tenho estado com tanto medo que o pranto desesperador já abandonado há muito, se arrasta devagar por entre as minhas pálpebras. Perceba isso: abandonado. Passou-se muito tempo desde que eu estive assim. Mentira, não foi muito tempo... Não no relógio. Porém, tenho a necessidade de confessar que, desde que você apareceu, meu coração tem batido em outro ritmo. É quase como se tivesse adiantado a primavera. E é isso que me desespera. Me desespera essa distância, sabe? Eu sei que você vê. Não posso estar ficando louco assim, tão cedo. Não posso ter perdido a lucidez assim, tão fácil. Você vê, não vê? E eu não queria te contar nada disso, você deve saber. Também não quero que entenda como uma obrigação, odeio soar pedante... Mas engasguei com os meus sentimentos em relação a ti. Não tenho dúvida quanto a eles só... Só dúvidas sobre onde devo depositá-los. Onde? Me diz. Me diz! Eu preciso de uma resposta dessas rápidas... Não, não precisa ser rápida. Só não quero ficar sem você muito mais. Vê, eu perdi o sono. Estou há mais de quatro horas no espaço imenso dessa cama esperando por você. Esperando pra fechar os olhos e te ver aí, dizendo que eu te irrito, que não entende o que eu falo e que sou obsessivo.
Algumas pessoas dizem que recordar é viver e que quem canta os males espanta... Só consigo cantarolar o maldito trecho da música em que se você for embora eu vou virar mendigo, eu não sirvo pra nada, não vou ser seu amigo... Fica comigo... Não está sendo fácil esse processo, esses nós. E um cara da comunicação, um outro que não recordo o nome, como sempre, costumava dizer que todos somos pontos de encontro, nós. Nó dado, nós-eu-e-você. E a gente se amarra de um jeito único, como todas as outras pessoas que se permitem amarrar, enlaçar, laçar. Então, como não durmo, não te tenho e não alivio o peso, só consigo pensar no permitir. Eu demorei tanto pra te permitir aqui, dentro de mim. Fico pensando se isso chega a ser doentio ou sou só eu tentando entender o que você é, exatamente, em cada pulsar do meu peito. O que você é quando adentrou meus poros e se alojou em vários cantos do meu eu. O que você está fazendo comigo? Isso me assusta. E eu tento ser forte pra ti, mas não sou bom em ser forte. É o medo. Aquela coisa de domar... Não sei se eu consigo sozinho.
                Meu bem, entenda que eu não estou te exigindo nada pra poder descansar em paz. É que meu peito tem estado tão pesado que eu já nem sei mais o quê fazer. Talvez eu descubra, com o passar dos dias, onde deva depositar esses nós entalados na garganta, exatamente. São tantas declarações clichês que você, no mínimo, daria risada. Sabe, eu só não quero apostar. Eu comprei as fichas, comprei todas que podia. Almejei mais delas, desde que você veio sorrir perto de mim. Só não sei onde apostar, agora. Ando meio desnorteado, meio perdido, meio sem sono. Deve ser por isso, afinal. Deve ser essa falta de sonho, de delírio, de riso-roubado que me desnorteia. Que me deixa sem chão. Deve ser essa falta de você mais perto, não sei... Na verdade, sei. Sei que é isso, sei que é falta da sua risada boba e das suas evasivas constantes.
                Talvez eu deva tentar voltar ao sono. Há uma possibilidade ínfima de que você venha. Eu só quero me sentar pra te olhar um pouco melhor, um pouco mais perto. Só quero fechar os olhos pra te ver aqui, ainda que não meu. Aqui. 

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